sábado, 19 de novembro de 2011

Olivedos aguarda há décadas presente de concreto e asfalto


Quatorze quilômetros de chão de barro e seixos separam a pequena Olivedos do desenvolvimento. Emancipada politicamente há 50 anos, desde lá o pequeno recanto do Curimataú paraibano espera, entre lamentos e muito pó, a literal concretização de um sonho: o calçamento do único caminho que liga o município ao resto do mundo.
Não só pela poeira que maltrata os pulmões e recobre a dura realidade, a população clama há décadas por uma obra que poderia ter poupado dezenas de vítimas, ceifadas nas curvas escorregadias da PB-157.
“Se ao menos a pista fosse menos sofrida, poupava a gente de muita coisa ruim”, reclama a comerciante Luzia Maria da Conceição, lembrando que muitos doentes da cidade sequer conseguiram chegar ao hospital mais próximo por não suportar o sacolejo massacrante do caminho acidentado.
Outro caso tocante que marcou a memória da comerciante foi o de uma gestante que, já em avançado trabalho de parto, precisou ser levada às pressas para uma maternidade da redondeza. Apesar do esforço e cuidado, infelizmente a `mamãe’ não conseguiu evitar que seu bebê sofresse as sequelas da tribulação. “Faltou pouco pra criança morrer. Graças a Deus ele só sofreu um pouquinho”, comenta a comerciante.
Prejuízos - Outro que não se conforma com o desprezo dado à sua terra é o artesão Sebastião Antônio. Apaixonado por aquele pedaço de chão - que carinhosamente chama de ‘meu cantinho’ – o curtidor de couro lamenta as perdas financeiras que a falta de infraestrutura de mobilidade traz à localidade.
“Eu mesmo já pensei em por meu carrinho pra rodar na pista levando o povo e mercadoria. Mas compensa? Na primeira viagem eu perco tudo só gastando pra consertar o estrago nas peças”, explica o artesão.
Outro grupo penalizado com a situação lastimável da estrada são os agricultores do município. Destaque na produção de algodão arbóreo, côco, manga, fava, feijão e milho, o município sente dificuldade para escoar a produção. Não só pela estagnação econômica, a deficiência também trava a geração de emprego.
Mais uma vítima - As curvas perigosas da pista de barro e pedras não pouparam nem mesmo a força policial do município. Durante uma diligência, a única viatura da cidade ficou completamente destruída, após o condutor perder o controle do veículo e capotar.
“Até a polícia pagou caro e a gente também: sem estrada que preste, nem segurança. Ficou a polícia a pé e nós com medo da bandidagem”, bradou Luzia Maria.
Mesmo com a revolta guardada na garganta, o povo olivedense encontrou no conformismo a inspiração para o apego ao que é seu, mesmo que seja a prova de sua condição de ‘esquecidos’. No dia 14 de dezembro do último ano a precária estrada foi oficialmente batizada: Manoel Araújo Souto, ‘herói’ da emancipação da cidade.

Luis Alberto Guedes
MaisPB
Fotos: Cacio Murilo

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